Crédito: Hewlett-Packard
Devo a Shoshana Zuboff, autora de “The Age of Surveillance Capitalism” (“A Era do Capitalismo de Vigilância”), o título desse artigo, extraído de uma resposta dada recentemente em entrevista. Zuboff falava sobre o fim da privacidade na era digital e o que isso significa na vida das pessoas. Entre muitas coisas, significa o fim da proteção, pois sem privacidade todas as pessoas estão nuas, expostas, seja ou não por iniciativa própria. A falta de proteção tem repercussões diversas, inclusive na economia.
Tenho me perguntado por que, no Brasil e nos Estados Unidos, os dois países que melhor conheço, a percepção das pessoas sobre o estado da economia anda tão distante dos fatos econômicos. Explico: tanto aqui (EUA) quanto aí (Brasil) o desemprego está baixo, a inflação está em queda ou estável, a economia e os salários estão crescendo. Contudo, o pessimismo impera e prospera, conforme revelam as pesquisas de opinião.
Quando foi que o bolso das pessoas deixou de ser baliza das esperanças e anseios, das expectativas e previsões sobre o futuro próximo? “Antigamente”, isto é, antes da pandemia, o bolso ditava o que gosto de chamar de “sentimento de feeling”, intuição e expectativa. Quando a inflação caía, aumentando o poder de compra, e o desemprego estava baixo, garantindo alguma segurança econômica, as pessoas tipicamente se mostravam otimistas em relação aos rumos da economia e às suas próprias circunstâncias. Já não é mais assim.
De um lado, as notícias negativas se acumulam, sobretudo as que mostram a gravidade das catástrofes ambientais diversas que todos nós temos atravessado. As enchentes no sul do Brasil, as queimadas pelo País inteiro, a fumaça densa sobre as grandes cidades, o céu alaranjado, para não falar dos furacões, secas, tempestades de intensidade inédita. As imagens que nos cercam são cenas de fim do mundo, ou de um mundo estrebuchante, constituindo razão suficiente para que todos fiquem horrorizados e amedrontados. Não tenho dúvidas de que as consequências visíveis das mudanças climáticas têm mexido com o imaginário das pessoas ampliando o viés pessimista. É impossível ter serenidade quando os olhos ardem, os pulmões se enchem de muco, as gargantas ficam mais ásperas do que lixa. Ainda assim, falta algo. Afinal, notícias terríveis e prenúncios de fim de mundo não são novidade.
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