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Dia desses lia uma matéria no New York Times sobre a proliferação de cursos nas universidades norte-americanas que tratam da felicidade e do bem-estar. Escrito por uma professora das ciências humanas, o artigo é mais um de uma série sobre duas crises concomitantes: a de depressão e ansiedade entre jovens universitários, de um lado, e a das humanas, de outro. Há um esvaziamento em curso dos departamentos de filosofia, línguas, história, literatura em razão da “profissionalização” da educação superior, isto é, do foco cada vez mais estreito em garantir bons empregos para os alunos. Disso resulta a exaltação de disciplinas como a ciência da computação, economia, engenharias diversas, em detrimento de áreas consideradas “de pouca utilidade prática”. A autora do artigo que menciono construiu um argumento sagaz: o esvaziamento das humanas abre um vácuo, hoje preenchido pelos tais cursos de felicidade. Mas, tais cursos carecem de um senso de propósito, não satisfazendo os alunos, não proporcionando qualquer melhora da saúde mental. Os cursos capazes de melhorar o bem-estar são justamente os que andam em processo de abandono.
Adorei essa tese e a tenho testado na minha vida pessoal e profissional. Há uma enorme quantidade de recursos na área das ciências humanas disponível gratuitamente na internet. A BBC, por exemplo, oferece todo o arquivo do programa de rádio/podcast “In Our Time” sobre filosofia, história, cultura. São conversas com professores de variadas áreas, com listas de leituras e todos os recursos para que qualquer um mergulhe nas ciências humanas com profundidade. Para mim, tem sido uma fonte imensurável de prazer, novos entendimentos, e, sim, felicidade também.
Muito tenho lido e ouvido sobre a filosofia da linguagem, área por vezes impenetrável a depender da porta de entrada. O assunto me interessa por motivos diversos, mas sobretudo para auxiliar meu entendimento a respeito do que podem vir a ser capazes os Large Language Models — os LLMs mais conhecidos como “chat bots”. Há um misto de histeria e exaltação que muito me incomoda. Portanto, comecei a ler e a ouvir o filósofo norte-americano John Searle.
Por que John Searle? Para quem não o conhece, ele é um expoente na área da filosofia da linguagem, tendo, no início dos anos 80, proposto um argumento polêmico que derruba a tese de ser a inteligência artificial “inteligente”. O argumento é conhecido como O Quarto Chinês e, ainda que tenha sido desenvolvido há décadas, continua a ser intensamente debatido até hoje tamanha a sua influência. Para os interessados, Aqui está uma leitura bastante completa. Resumindo, Searle argumenta que jamais seremos capazes de desenvolver um modelo de IA verdadeiramente inteligente.
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